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Quinta, 30 Março 2017 14:13

Os benefícios da canela: reais ou questionáveis? Destaque

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Atualmente existem cerca de 250 espécies de canela, quatro das quais têm sido usadas como iguaria culinária. A canela verdadeira ou Cinnamomum verum/C. zeylanicum é uma árvore nativa do Sri Lanka. Já a canela cássia chinesa (Cinnamomum cassia) é uma das espécies mais amplamente disponível. A canela tem seu nome derivado de uma palavra grega que significa madeira doce, sendo obtida da parte interna da casca do tronco. É bastante utilizada na culinária como aromatizante e condimento assim como na preparação de certos tipos de chocolate e licores. Além disso, suplementos fitoterápicos à base de extrato de canela têm sido vendidos para tratamento da obesidade, diabetes e dislipidemia (aumento dos níveis de colesterol).

Mas quais são as bases fisiopatológicas para o seu uso?

No início dos anos 90, foram descritos efeitos benéficos da canela sobre a redução da glicemia e melhora do perfil lipídico em estudos com animais. A canela contém substâncias biologicamente ativas que atuam nas vias de sinalização insulínica, resultando em menor resistência à ação da insulina, mecanismo associado ao surgimento do diabetes. Além disso, propriedades anti-oxidantes e anti-inflamatórias têm sido descritas em estudos experimentais envolvendo células em laboratório e estudos em animais.

Mas em humanos, estes efeitos também são reprodutíveis?

No início dos anos 2000, um estudo realizado no Paquistão avaliando a suplementação da canela em pacientes com diabetes tipo 2 encontrou uma redução significativa dos níveis de glicose (entre 18 a 29%), triglicerídeos (23 a 30%), LDL (colesterol ruim) (7 a 27%) e colesterol total (12 a 26%) com o uso da canela em cápsula em três diferentes doses (1, 3 e 6 gramas). Vale lembrar que uma colher de chá de canela em pó contém aproximadamente 1,5 gramas de canela.

Estes resultados animadores infelizmente não foram reproduzidos em outras populações.

Nos últimos 10 anos, o efeito da suplementação da canela sobre a redução da glicose e/ou dos níveis lipídicos foi avaliado por diversas revisões sistemáticas*. Os estudos analisados foram todos de curta duração (a maioria de até 12 semanas), com um número pequeno de pacientes, com diferentes doses e preparações de canela. Os resultados são inconsistentes e não mostraram superioridade da canela em relação ao placebo sobre os níveis de glicemia e os componentes do colesterol (colesterol total, HDL, LDL e triglicerídeos).

Em todos os estudos publicados até o momento, os pacientes avaliados apresentaram diferenças importantes entre eles como idade, peso e etnia, dificultando dessa forma uma comparação dos resultados.

Além disso, muitas variáveis como hábitos e estilo de vida, uso de outras medicações durante a realização dos estudos podem ter enviesado os resultados.

Em relação à preparação da canela, diferentes estudos têm usado diferentes preparações de canela. Importante destacar que os estudos em humanos só utilizaram a Cinnamomum cassia (canela cássia chinesa) sendo que a Cinnamomum zeylanicum, que é a canela verdadeira, não foi testada em humanos.

Embora o composto ativo responsável pela redução da glicose não tenha sido caracterizado com certeza, é provável que o cinamaldeído seja o responsável pelo efeito hipoglicemiante. Ainda, a concentração de cinamaldeído varia entre as espécies e também conforme a formulação da canela.

Adicionalmente, variações no processo de fabricação também afetam a qualidade e a disponibilidade do composto ativo uma vez que estes suplementos não são regidos pelos mesmos padrões exigentes dos produtos farmacológicos convencionais.

E em relação ao uso da canela como substância termogênica?

Apesar de largamente difundido no meio leigo, não existe suporte científico que justifique o uso da canela para aumento do gasto energético.

*Revisão sistemática: tipo de estudo cujo objetivo é fazer uma revisão abrangente e não tendenciosa de todos os estudos publicados na literatura com o mesmo objetivo

Referências:

1. Cinnamon improves glucose and lipids of people with type 2 diabetes. Diabetes Care. 2003;26(12):3215–8.

2. Effect of Cinnamon on Glucose Control and Lipid Parameters. Diabetes Care 31:41–43, 2008

3. Cinnamon for diabetes mellitus. Cochrane Database Syst Rev. 2012;9

4. Cinnamon in glycaemic control: Systematic review and meta analysis. Clin Nutr. 2012;31(5):609–15.

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Lido 1967 vezes Última modificação em Quarta, 24 Julho 2019 11:31

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