É sabido que o excesso de peso está associado a um aumento importante no risco de diversas condições, como apneia do sono, doença hepática gordurosa não alcoólica (“gordura no fígado”), diabetes tipo 2, dislipidemia, hipertensão arterial, doença cardíaca e isquemia cerebral.
A obesidade associa-se a maior mortalidade geral, mesmo quando o indivíduo não apresenta alterações metabólicas óbvias (mito do “gordinho saudável”).
A perda de peso, mesmo que discreta (5% do peso inicial), é capaz de reduzir todos os desfechos acima mencionados. Ainda, sabemos que a magnitude de melhora é proporcional ao peso perdido, ou seja, quanto maior a perda, maior a redução de risco.
Apesar dos benefícios inquestionáveis sobre a saúde em geral, porque é tão difícil manter a perda de peso no longo prazo?
Sabemos que cerca de um terço das pessoas que perdem peso o recuperam ao final do primeiro ano de tratamento.
A obesidade resulta, em última análise, de um desequilíbrio energético crônico, ou seja, um maior consumo (sobretudo de alimentos ultraprocessados) associado a um menor gasto calórico (sedentarismo).
Quando um balanço energético negativo é instituído por meio de uma redução na ingestão calórica (dieta) e/ou aumento da atividade física (gasto calórico), uma série de adaptações metabólicas e mecanismos compensatórios são ativados, de acordo com a magnitude e a duração da restrição calórica. Aliados aos fatores intrínsecos do organismo, uma redução na adesão à dieta somado à falha na manutenção da atividade física contribuem para o reganho progressivo de peso no médio e longo prazo.
A restrição calórica induzida pela dieta resulta na ativação de mecanismos compensatórios, como a liberação de hormônios que aumentam o apetite e a supressão de hormônios que regulam a saciedade. Infelizmente as evidências disponíveis sugerem que estas reações adaptativas tendem a persistir ao longo do tempo, justificando, em parte, a elevada taxa de reganho de peso.
Tais mecanismos adaptativos seriam vantajosos para uma pessoa magra em um ambiente hostil onde a comida fosse escassa, numa tentativa de preservar os estoques de gordura como fonte de energia; entretanto, em um ambiente em que o alimento é abundante e de fácil acesso, e a atividade física não é incentivada por políticas públicas, as taxas elevadas de reganho após a perda de peso não são surpreendentes.
Além das adaptações hormonais acima descritas, ocorre um declínio das necessidades energéticas (metabolismo) com a perda de peso, podendo variar de 200 kcal/dia com uma perda de 10% do peso até 400 kcal/dia com perdas de 20% do peso. Esta redução do gasto calórico parece persistir por longos períodos após a perda de peso, favorecendo ainda mais o reganho de peso.
Todos estes achados demonstram que, em pacientes portadores de obesidade submetidos a uma intervenção para perda de peso, múltiplos mecanismos compensatórios são ativados (por tempo prolongado) na tentativa de restabelecer o peso anterior.
Por isso, o entendimento de que a obesidade é uma doença crônica e complexa, resultante de um desequilíbrio energético em uma pessoa geneticamente suscetível é imprescindível para o adequado manejo no curto e longo prazo.
Tendo em vista os inúmeros mecanismos compensatórios reguladores do apetite que são ativados após a perda de peso, o uso de medicações que auxiliem no controle destes fatores é fundamental para a maior chance de manutenção do peso no longo prazo.
Além disso, a constante vigilância e controle da ingestão alimentar associada ao aumento do gasto energético através da atividade física são pré-requisitos fundamentais para o sucesso do tratamento.
Fontes:
1. Long-Term Persistence of Hormonal Adaptations to Weight Loss. N Engl J Med 2011;365:1597-604
2. Long-term weight-loss maintenance: a meta-analysis of US studies. Am J Clin Nutr 2001;74:579-84
3. Diminished energy requirements in reduced-obese patients. Metabolism 1984;33:164-70
4. Long-term persistence of adaptive thermogenesis in subjects who have maintained a reduced body weight. Am J Clin Nutr 2008;88:906-12
5. Treating obesity seriously: when recommendations for lifestyle change confront biological adaptations. Lancet Diabetes Endocrinol 2015; 3: 232-4
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