Que a obesidade está associada a uma série de complicações sérias como o diabetes tipo 2, hipertensão arterial, doença cardiovascular, gordura no fígado, todos sabem.
Mas você já ouviu falar sobre a associação da obesidade com a doença de Alzheimer?
Pois então, além dos fatores de risco clássicos para esta doença neurodegenerativa, tais como idade avançada e acometimento de familiares de primeiro grau, o excesso de peso tem sido apontado como um potencial fator de risco modificável para a doença.
De acordo com um estudo recentemente publicado, indivíduos com obesidade na meia idade (~50 anos) apresentaram um risco maior de desenvolver alterações neurodegenerativas em relação àqueles com o peso adequado. Ainda, a presença de outros fatores de risco, como tabagismo, colesterol elevado, hipertensão arterial e diabetes tipo 2 aumentaram de forma aditiva a probabilidade destas alterações.
Mas afinal qual a relação entre a doença de Alzheimer e a obesidade?
Ambas apresentam uma série de alterações patológicas em comum.
A obesidade é uma doença caracterizada por um estado de inflamação crônica em todo organismo, incluindo o cérebro. Além disso, o excesso de peso é o principal causador da resistência insulínica, mecanismo responsável pelo diabetes tipo 2.
Nesse sentido, a disfunção metabólica relacionada à obesidade e à resistência insulínica comprometem o bom funcionamento cerebral sob múltiplas vias, resultando em última análise em deposição de amiloides, redução da plasticidade cerebral, da neurogênese (formação de novos neurônios) e redução do volume cerebral, alterações descritas também na doença de Alzheimer.
Além disso, a resistência insulínica no cérebro parece ser precoce (muitos anos antes de a doença de Alzheimer manifestar-se clinicamente), o que evidencia a importância de controlar os fatores de risco modificáveis, como o excesso de peso, o sedentarismo, uma alimentação nutricionalmente pobre, etc assim que identificados.
Dessa forma, uma vez que a obesidade é a causa primária da resistência insulínica, a prevenção ou o tratamento da obesidade consequentemente reduzirá a prevalência de indivíduos com pré-diabetes, diabetes tipo 2 e possivelmente o número de pacientes com declínio cognitivo, incluindo a doença de Alzheimer.
Como, até o momento, não existe um biomarcador confiável para identificar precocemente os pacientes com maior risco de desenvolver a doença de Alzheimer, tampouco uma intervenção farmacológica efetiva que possa evitar ou efetivamente tratar esta doença, estratégias simples e de baixo custo focando no controle do peso, em uma alimentação saudável e em exercícios regulares devem ser encorajadas e iniciadas na meia idade ou idealmente antes.
Prevenção sempre será o melhor tratamento!
*Obesidade é definida por um índice de massa corporal (IMC) maior ou igual a 30 kg/m²
Referências
1. Obesity as a risk factor for Alzheimer’s disease: weighing the evidence. Obesity Reviews 19, 269–280, February 2018
2. Association Between Midlife Vascular Risk Factors and Estimated Brain Amyloid Deposition. JAMA 2017 Apr 11;317(14):1443-1450. doi: 10.1001/jama.2017.3090.
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