Sabemos que a obesidade é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura em decorrência de um desequilíbrio entre o consumo e o gasto calórico em indivíduos geneticamente predispostos. Nesse sentido, o tratamento tem por objetivo favorecer um balanço energético negativo por meio de uma restrição na ingestão calórica associada a um aumento do gasto energético. Acontece que a restrição alimentar aumenta a sensação de fome, podendo comprometer os resultados de perda de peso no longo prazo.
Por isso, estratégias que possam auxiliar no controle da fome, saciação e saciedade através da modulação da densidade energética e do volume dos alimentos, têm sido estudadas.
Primeiramente, a densidade energética corresponde à quantidade de energia contida em determinado alimento, expressa como calorias por grama (kcal/g). Por exemplo, a gordura aumenta mais a densidade energética de um alimento (9 kcal por grama) do que o carboidrato e a proteína (4 kcal/grama). Já a água e as fibras reduzem a densidade energética mas aumentam o volume total do alimento.
Além disso, quando falamos em regulação do apetite, dois conceitos são importantes: saciação e saciedade.
Saciação refere-se ao tempo entre o comer e o sentir-se satisfeito. A saciação ocorre em decorrência do enchimento e distensão das paredes do estômago após ingerir determinado alimento ou uma refeição. Já a saciedade é definida como o intervalo entre acabar de comer e voltar a sentir fome, como ilustrado na figura abaixo.
Indivíduos que consomem grandes quantidades de alimentos em poucas refeições por dia podem se beneficiar do consumo de alimentos com volume maior e menor densidade energética, ou seja, alimentos com maior teor de água e/ou fibras como por exemplo caldo de legumes, saladas e vegetais antes das refeições, visto que estes alimentos auxiliam na saciação (redução da ingestão calórica na refeição).
Ainda, o aumento do volume de um alimento, sem aumento concomitante da sua densidade energética, pode resultar em prolongamento no intervalo até a próxima refeição (maior saciedade). Pesquisador americano investigou o efeito do aumento do volume de uma bebida láctea, acrescentando ar na bebida, com mesmo valor calórico, sobre o consumo nas refeições subsequentes. Os indivíduos que ingeriram a bebida com volume maior reduziram a ingestão calórica posteriormente.
Outro estudo interessante mostrou que a adição de fibras solúveis* (neste experimento usaram goma guar) no almoço, levando ao aumento do volume do alimento, ocasionou prolongamento do tempo até que os pacientes voltassem a sentir fome, ou seja, comer mais fibras no almoço aumentou a saciedade até a janta.
Dessa forma, estratégias nutricionais que priorizem alimentos com menor densidade energética e maior volume devem ser incentivadas, uma vez que auxiliam no aumento da saciação e da saciedade durante e após a perda de peso!
*Fibras solúveis (exemplos): aveia, psyllium, biomassa de banana verde
Referências
1. Energy density and portion size: their independent and combined effects on energy intake. Physiology & Behavior 2004; 82: 131–138.
2. Reductions in portion size and energy density of foods are additive and lead to sustained decreases in energy intake. Am J Clin Nutr 2006; 83(1):11-7.
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