É comum os pacientes procurarem ajuda profissional com expectativas muito elevadas para perda de peso e por vezes irrealistas. Conforme alguns estudos, os pacientes esperam perder entre 20 a 30% do seu peso com o tratamento, um valor bastante diferente do preconizado pelas sociedades médicas para obtenção de benefícios na saúde, que é de 5 a 10% do peso inicial.
Em contraste a esta expectativa, mudanças no estilo de vida, incluindo dieta e exercício, levam a uma perda entre 3 a 8% do peso inicial e um percentual pequeno destes mantém a perda no longo prazo. A adição de medicamentos aumenta a chance de perda para 10 a 15%, o que é considerada uma excelente resposta.
A discrepância entre as expectativas do paciente e os resultados obtidos podem levar à frustração e ao abandono do tratamento, especialmente entre mulheres, em que a pressão midiática é bastante influente.
Por isso, é necessário avaliar as expectativas e os objetivos do paciente em relação ao tratamento e o que é factível de ser atingido para maior chance de manutenção dos resultados no longo prazo.
Da mesma forma, é importante ressaltar ao paciente que perdas modestas mantidas no longo prazo são suficientes para melhorar a saúde e prevenir ou amenizar muitas complicações relacionadas ao excesso de peso e são efetivas na redução dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes e doenças cardiovasculares. De fato, perdas superiores são às vezes necessárias conforme as comorbidades apresentadas individualmente por cada paciente.
Uma perda entre 5 a 10% do peso inicial já é suficiente para redução de fatores de risco associados ao surgimento do diabetes tipo 2 e doença cardiovascular. Perdas maiores, entre 10 a 15%, são necessárias para melhora de doenças como apneia do sono e esteatohepatite (inflamação do fígado pelo excesso de peso).
Por fim, a conscientização de que a manutenção do novo peso depende do equilíbrio entre as mudanças de comportamento adotadas durante a fase de perda de peso e dos limites genéticos de cada um é fundamental, tendo sempre como foco a melhora dos parâmetros de saúde.
Referência
Obesity in adults: Overview of management. UpToDate, May, 2019.
Para maior chance de obtenção de resultados positivos durante o processo de emagrecimento e de manutenção de um menor peso no longo prazo, mudanças comportamentais são imprescindíveis.
Nesse sentido, a terapia cognitivo-comportamental direcionada para a modificação dos padrões individuais de comportamento aumenta a probabilidade de êxito do tratamento.
Confira abaixo 5 dicas de mudanças no comportamento que ajudarão no controle do peso:
1. Aumento da atenção durante a refeição
Estima-se que aproximadamente 30% dos pacientes acima do peso subestimam o que comem, provavelmente por não prestarem atenção no que estão ingerindo.
Por isso, é importante reduzir os estímulos que geram distração, como assistir TV, ler jornal ou acessar mídias sociais, durante uma refeição.
2. Controle dos estímulos
O estímulo visual desempenha um papel importante na ativação da vontade de comer.
Portanto, evite passar por locais no mercado sabidamente repleto de alimentos pouco saudáveis.
Além disso, planejar-se é essencial durante o processo de emagrecimento. Então, faça uma lista de compras e evite fazer compras antes das refeições, pois a fome aumenta nossa probabilidade de fazer escolhas menos saudáveis.
3. Evite pensamentos dicotômicos
Muitos pacientes acreditam que o sucesso do tratamento resume-se à redução absoluta do peso. Por isso, encaram o tratamento como “tudo ou nada”, ou seja, ou sigo a dieta 100% ou, já que escapei um dia, tudo está perdido e portanto, como falhei uma vez, melhor abandonar.
Quem me conhece sabe o quanto ressalto que o peso é uma consequência de um conjunto de mudanças instituídas (dietéticas, comportamentais e de estilo de vida) que vão invariavelmente levar a uma redução do peso.
O foco do emagrecimento tem que ser a mudança de hábitos e não a balança em si, embora esta seja uma ferramenta auxiliar do processo como um todo.
O processo de mudança comportamental consiste em um continnum de autocontrole, existindo categorias intermediárias que precisam ser consideradas e mantidas.
4. Evite pensamentos disfuncionais, como a desqualificação do positivo
Trata-se de uma distorção cognitiva em que o paciente enxerga apenas os aspectos negativos do seu comportamento. Exemplo: O paciente conseguiu manter o plano alimentar saudável na maioria dos dias da semana mas sente-se frustrado por não ter conseguido segui-lo por toda a semana.
Essa tendência em não valorizar melhoras graduais contribui para o desenvolvimento da baixa autoestima, uma vez que o paciente considera suas conquistas sempre insuficientes.
Esse comportamento pode contribuir para o abandono do tratamento pois o paciente não consegue perceber a evolução do seu quadro.
Portanto, valorize as pequenas conquistas diárias e procure ver o tratamento como um processo contínuo de aquisição de habilidades para o autocontrole.
5. Elabore metas factíveis que causem melhora significativa da saúde em geral
Muitos pacientes, sobretudo mulheres e pacientes jovens, desejam alcançar um peso muito abaixo do que precisariam, na maioria das vezes, por questões estéticas.
O desejo por metas difíceis de serem atingidas aumenta o sentimento de ansiedade e o risco de frustrações.
Dessa forma, é importante estabelecer com o médico e/ou nutricionista metas realistas que tenham impacto sobre a saúde em geral, como uma perda de pelo menos 10% do peso inicial.
Uma vez atingida esta meta inicial, pode-se então prosseguir com metas mais estreitas de acordo com a vontade do paciente.
Referência:
1. Importância de medidas cognitivo-comportamentais no tratamento da obesidade. Tratamento não farmacológico da obesidade e de suas comorbidades. Tratado de Obesidade 2ª edição, 2018.
A prática regular de exercícios apresenta inúmeros benefícios em diversos sistemas no organismo que vão desde o estímulo à formação de novos neurônios à redução da mortalidade geral.
Confira a seguir seus principais benefícios:
1. GANHO DE MASSA MAGRA E MELHORA DA FORÇA MUSCULAR
► Você sabia que a partir dos 30 anos existe uma perda gradual e progressiva de massa muscular? E, em mulheres, esta perda torna-se mais pronunciada durante o climatério e a menopausa, por volta dos 45 a 50 anos.
► A redução da massa muscular (conhecida como sarcopenia) está associada a uma diminuição da força muscular, um achado frequentemente visto em indivíduos com mais de 60 anos.
► A sarcopenia, por sua vez, aumenta o risco de quedas e consequentemente de fraturas, hospitalização e mortalidade.
► Nesse sentido, o exercício, especialmente o resistido (exercício que envolva alguma carga, como a musculação), reduz consideravelmente a perda de massa muscular relacionada à idade e consequentemente as complicações descritas acima.
2. MAIOR CHANCE DE MANUTENÇÃO DO PESO
► Indivíduos fisicamente ativos apresentam um menor ganho de peso ao longo do tempo quando comparados aos sedentários.
► Já em pacientes em tratamento para perda de peso, o exercício resistido durante a fase de emagrecimento atenua significativamente a flacidez por maior preservação da massa muscular.
► Sabemos que a nossa taxa metabólica basal (isto é, o quanto de energia precisamos consumir para manutenção das atividades fisiológicas basais) depende basicamente da nossa massa muscular. Portanto, quanto maior a massa muscular, maior a chance de manutenção do peso no longo prazo!
3. MELHORA DA MASSA ÓSSEA
► A obtenção de um pico máximo de massa óssea é considerada a melhor proteção contra a perda óssea relacionada à idade.
► Tendo em vista que o pico de massa óssea ocorre por volta dos 20 anos de idade e é influenciado pela genética e por fatores ambientais, como uma alimentação rica em cálcio e a realização de atividade física, a instituição de exercícios regulares nessa fase da vida é imprescindível.
► Exercícios com alguma resistência ou impacto estão associados ao aumento da massa óssea e à redução de fraturas em geral, especialmente fraturas do fêmur em pacientes com osteopenia ou osteoporose.
4. REDUÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL
► O exercício reduz o risco de hipertensão arterial assim como auxilia no controle da pressão em pacientes em tratamento para a doença.
► Indivíduos ativos apresentam risco 30% menor de desenvolver hipertensão arterial em relação aos sedentários.
5. REDUÇÃO DOS SINTOMAS DE ANSIEDADE E DEPRESSÃO
► A realização de exercícios regularmente reduz os sintomas de ansiedade de magnitude proporcional à duração das sessões de exercício.
► Ainda, o alívio dos sintomas pode ser comparável a algumas medicações ansiolíticas. Portanto, para indivíduos que optam por opções não farmacológicas, o exercício mostra-se uma opção bastante efetiva.
► Em relação à depressão, a adoção de exercícios regulares pode ser prescrita como modalidade única de tratamento em pacientes com sintomas leves bem como parte do tratamento para os pacientes mais sintomáticos.
6. PRESERVAÇÃO DA FUNÇÃO COGNITIVA
► O exercício melhora o intelecto (memória, raciocínio, linguagem), especialmente entre idosos.
► Mais recentemente, ficou demonstrado que o exercício é capaz de estimular tanto a neurogênese (formação de novos neurônios) quanto a neuroplasticidade (capacidade de reorganização das células nervosas), contribuindo para a preservação da função cognitiva com o decorrer da idade.
7. MELHORA DO SONO
► Indivíduos com distúrbios do sono (insônia ou sono fragmentado) frequentemente referem fadiga, desatenção e irritabilidade.
► Para aqueles que estão tentando emagrecer, sabe-se que um sono de qualidade ruim aumenta a vontade por alimentos ricos em açúcar e gordura, dificultando, portanto, a adesão ao plano alimentar.
► A prática regular de exercícios tem efeitos positivos tanto sobre a duração total do sono quanto à qualidade do sono.
► Portanto, um sono de boa qualidade é fundamental para a restauração física e mental, além da maior chance de manutenção de um peso saudável no longo prazo.
8. INTEGRAÇÃO SOCIAL, MELHORA DA MOTRICIDADE, DISCIPLINA E CONCENTRAÇÃO
► A realização de qualquer atividade física em crianças contribui para o desenvolvimento da coordenação motora e da concentração.
► Além disso, entre crianças e adolescentes também contribui para aquisição de responsabilidade, disciplina e socialização com seus pares.
► Já indivíduos de meia idade e idosos ampliam seu círculo de amizades, um pré-requisito importante para um envelhecimento saudável.
9. REDUÇÃO DO RISCO DE DOENÇAS CRÔNICAS
► Existe uma relação bem estabelecida entre um menor risco de doenças crônicas com a realização de exercícios.
► O exercício aeróbico, como caminhadas, bicicleta, natação, produz efeitos positivos sobre o perfil lipídico (redução do colesterol ruim e aumento do colesterol bom), redução do percentual de gordura corporal, bem como redução dos fatores homeostáticos relacionados a maior risco de trombose.
► Tanto o exercício aeróbico (principalmente) quanto o resistido apresentam efeitos benéficos sobre o controle da pressão arterial, reduzindo o risco de doenças cardiovasculares, como o AVC.
► O exercício melhora os níveis de glicemia, reduzindo o risco de diabetes tipo 2 e melhorando o controle glicêmico em pacientes já em tratamento para a doença.
► Ainda, o exercício parece ser protetor contra uma série de cânceres, tais como câncer de mama, intestino, endométrio, próstata e pâncreas.
► Para pacientes já em tratamento contra um câncer, a manutenção de exercícios regulares está associada a maior sobrevida, menor prevalência de fadiga e a melhor qualidade de vida.
10. REDUÇÃO DA MORTALIDADE GERAL
► Inúmeros estudos têm mostrado uma relação direta entre o tempo de horas sentado por dia com o aumento da mortalidade geral.
► Conforme estudo recentemente publicado, a inatividade física é responsável por 9% das mortes prematuras.
A grande maioria dos benefícios relacionados ao exercício apresenta uma relação dose-resposta, ou seja, quanto maior o tempo dedicado, maior o benefício esperado. Por isso, é importante que você escolha alguma modalidade que lhe dê prazer!!
Por fim, embora o exercício não reverta o processo de envelhecimento, ele certamente atenua muitos de seus efeitos deletérios sistêmicos e celulares.
*Atividade física e exercício não são sinônimos.
Atividade física refere-se a qualquer movimento corporal que aumente o gasto energético, o que inclui andar na rua, subir escada, fazer trabalhos domésticos e atividades de lazer. O termo exercício físico refere-se à atividade física realizada de forma estruturada, organizada e com objetivo específico.
Entretanto, para fins didáticos, estes termos foram usados como sinônimos neste texto.
Referências
1. Effect of physical inactivity on major non-communicable diseases worldwide: an analysis of burden of disease and life expectancy. Lancet Physical Activity Series Working Group. Lancet. 2012 Jul;380(9838):219-29.
2. The effect of exercise training on anxiety symptoms among patients: a systematic review. Arch Intern Med. 2010;170(4):321.
3. Exercise interventions for cognitive function in adults older than 50: a systematic review with meta-analysis. Br J Sports Med. 2018;52(3):154. Epub 2017 Apr 24.
4. Exercise Attenuates the Major Hallmarks of Aging. Rejuvenation Res. 2015 Feb;18(1):57-89
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