Esteroides anabolizantes são derivados sintéticos da testosterona utilizados com o objetivo de aumentar a massa e a força musculares. Apresentam como principais efeitos adversos: 1. Aumento do colesterol ruim e diminuição do colesterol bom; 2. Maior risco de tromboses e embolias; 3. Risco aumentado de infarto cardíaco, arritmias e morte súbita; 4. Câncer de fígado.
Em homens, os principais efeitos indesejáveis são acne, aumento das mamas (ginecomastia), redução do tamanho e do funcionamento dos testículos, impotência sexual, infertilidade, aumento da próstata e calvície.
Já em mulheres, acne, aumento do clitóris, irregularidade na menstruação, infertilidade, engrossamento da voz e rouquidão (irreversível), atrofia das mamas e calvície são os paraefeitos mais comuns.
A proteína em si não é um suplemento ergogênico! Isso significa que não basta apenas ingerir proteínas (sejam elas oriundas da dieta ou de suplementos) para ganho de massa muscular. A proteína serve como substrato para otimizar o ganho de massa muscular mediante uma série de estímulos, dentre eles, o exercício resistido (musculação). Além disso, para otimização da síntese proteica, é necessário o fracionamento das proteínas (dietéticas ou suplementadas) em 3 a 4 porções ao dia, em quantidades que variam entre 20 a 40 gramas por porção.
Suplementos à base de proteínas, especialmente os de origem animal, são muito populares entre atletas amadores e indivíduos que visam melhora da performance muscular.
O whey protein consiste na proteína do soro do leite que pode ser usado como complemento à dieta para adequar as necessidades proteicas diárias do indivíduo. Vale ressaltar que o seu uso não é mandatório para melhora da composição corporal (ganho de massa muscular e perda de gordura).
Especificamente em relação ao whey protein como causa de acne, será que esta informação procede?
Estudos observacionais têm mostrado aumento do risco de surgimento ou agravo da acne em consumidores de leite (mais do que 3 porções por semana). Estes estudos, entretanto, usaram recordatório de 24 horas para avaliar a ingestão alimentar, o que pode fazer com que mais indivíduos acometidos por acne lembrem do que comeram do que aqueles sem acometimento (um tipo de fator de confusão chamado viés de memória que pode interferir nos resultados).
Ainda, estudos que avaliaram o uso de whey com o surgimento de acne mostraram uma relação temporal com o início da suplementação assim como melhora da acne após suspensão do suplemento.
Uma das hipóteses para esta associação é que o consumo de leite desnatado e de whey protein está associado a maiores níveis de IGF1 (fator de crescimento semelhante à insulina) e de insulina, o que por sua vez estimula a proliferação de queratinócitos, a secreção pelas glândulas sebáceas, a inflamação folicular e a ativação de receptores androgênicos na pele, mecanismos responsáveis pela patogênese da acne.
Resumindo, as evidências que apoiam a associação entre o uso de whey protein e acne estão sujeitas a uma série de fatores de confusão que limitam uma conclusão em definitivo. Sabemos que muitos usuários de suplementos fazem uso concomitante de outras substâncias, dentre elas, esteroides anabolizantes, sabidamente associados ao risco de acne e que isto nem sempre é devidamente referido nos estudos.
Portanto, a ingestão de leite e derivados, incluindo o whey protein, parece estar associado ao maior risco de surgimento e/ou agravamento da acne em indivíduos geneticamente predispostos! Além disso, a acne relacionada ao uso de whey protein apresenta menor resposta aos tratamentos disponíveis. Já suplementos proteicos à base de proteínas vegetais não estão associados a um maior risco!!
Texto escrito em colaboração com a amiga e médica dermatologista Dra Aline Hatzenberger, CRM 29982 / RQE 27235
Referências
1. The effects of protein supplements on muscle mass, strength, and aerobic and anaerobic power in healthy adults: a systematic review. Sports Med. 2015 Jan;45(1):111-31
2. Diet and acne: a review of the evidence. Int J Dermatol. 2009;48(4):339.
Você sabe a diferença entre fome e vontade de comer? Fome é uma resposta fisiológica à falta de alimento e vontade de comer é o desejo por determinados alimentos. Muitas situações podem desencadear a vontade de comer mesmo que você tenha acabado de fazê-lo. Se você estiver com sensação de fome mas seletiva em relação ao que comer, questione se é fome de fato ou vontade de comer. A vontade de comer é um sentimento que precisa de controle, assim como as demais vontades que sentimos diariamente por muitas outras coisas.
A busca por recursos para auxiliar na perda de peso tem crescido em paralelo à epidemia de obesidade. Muitos suplementos ditos “naturais” são vendidos com a promessa de acelerar o metabolismo e auxiliar na queima de gordura, sendo chamados de termogênicos.
Dos suplementos vendidos para perda de peso, a cafeína é o item mais frequentemente encontrado, sendo vendida como cápsula ou à granel. A cafeína está presente naturalmente em grãos de café e no chá verde (principais fontes), sendo considerada a bebida estimulante mais consumida no mundo.
Em relação a seus potenciais efeitos especificamente sobre a perda de peso, a cafeína atua, por diferentes mecanismos, sobre a ingestão alimentar e o gasto calórico.
Através da inibição das fosfodiasterases, a cafeína ocasiona um aumento dos níveis de catecolaminas que induzirão lipólise (queima de gordura) no tecido adiposo, aumentando, portanto, a oxidação de gordura.
Alguns estudos também demonstraram aumento da taxa metabólica de repouso, principal componente do gasto calórico, após o consumo de doses moderadas de cafeína.
Ainda a cafeína pode suprimir a fome e aumentar a saciedade por estimular o sistema nervoso simpático (SNS).
Mas qual o real impacto destas ações sobre a perda de peso?
O aumento do gasto calórico descrito com a cafeína é discreto, tendo relevância clínica questionável para indução significativa de perda de peso. Além disso, este efeito sobre o metabolismo foi verificado, na grande maioria dos estudos, em associação a outros compostos estimulantes do SNS, como a efedrina, não se podendo separar o efeito de um e de outro.
Quanto à supressão do apetite / aumento da saciedade, os estudos são ainda mais controversos, não demonstrando até o momento benefícios contundentes sobre a redução da ingestão alimentar.
A falta de consistência entre os estudos em demonstrar algum benefício com a suplementação de cafeína pode estar relacionada à influência dos fatores genéticos, idade, sexo, IMC e outros fatores que podem causar confusão na interpretação dos resultados.
Além disso, com o uso frequente, o indivíduo pode desenvolver tolerância levando ao consumo de doses cada vez maiores, podendo aumentar o risco de efeitos adversos, tais como elevação da pressão arterial, agitação psicomotora, insônia, dentre outros. Ainda, alguns indivíduos são mais sensíveis aos efeitos da cafeína, mesmo com o consumo de doses baixas, estando mais suscetíveis aos seus efeitos indesejáveis.
Também é importante ressaltar que muito frequentemente estes suplementos “naturais” são vendidos como blends (misturas) de vários componentes, muitos não sendo declarados no rótulo e com potencial adicional de risco, como estimulantes do sistema nervoso central, diuréticos, hormônios da tireoide, etc.
Portanto, a prescrição de cafeína como recurso isolado para perda de peso carece de evidência para tratamento da obesidade!
Referências
1. Obesity and thermogenesis related to the consumption of caffeine, ephedrine, capsaicin, and green tea. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol. 2007 Jan;292(1):R77-85.
2. The effect of caffeine, green tea and tyrosine on thermogenesis and energy intake. Eur J Clin Nutr. 2009 Jan;63(1):57-64.
3. The effect of caffeine on energy balance. J Basic Clin Physiol Pharmacol 2017; 28(1): 1–10
Desde meados da década de 90, tem-se postulado que o diabetes tipo 2, doença até então considerada crônica e de curso progressivo, poderia ser revertida após a cirurgia bariátrica, hipótese levantada pelo cirurgião americano, Dr. Walter Pories, em seu artigo intitulado: “Who would have though it? An operation proves to be the most effective therapy for adult-onset diabetes mellitus” que mostrou melhora glicêmica significativa ou remissão da doença em 83% dos pacientes submetidos ao procedimento.
Define-se remissão do diabetes como a obtenção de níveis glicêmicos que não preenchem critérios para diabetes, na ausência de terapia farmacológica e com duração superior a 1 ano. Ainda, a remissão pode ser parcial, quando os níveis de hemoglobina glicada* (A1c) são inferiores a 6,5% e a glicemia de jejum entre 100 a 125 mg/dl e completa quando ocorre restauração à normoglicemia (A1c inferior a 5,7% e glicemia de jejum abaixo de 100 mg/dl).
Conforme metanálise publicada em 2009, com inclusão de 621 estudos e aproximadamente 5000 pacientes com diabetes tipo 2, 80% dos pacientes obtiveram remissão completa da doença após a realização do bypass gástrico, tipo de cirurgia bariátrica mais comumente realizado.
Mais recentemente, no trial Diabetes Remission Clinical Trial (DiRECT), estudo desenvolvido para avaliar o efeito da perda de peso sobre as taxas de remissão do diabetes em indivíduos com menos de 6 anos de doença, dos 149 pacientes que receberam uma dieta hipocalórica, 46% alcançaram remissão em 1 ano, chegando a 86% entre aqueles com perda de peso igual ou superior a 15 kg!
Em março deste ano, foram publicados os resultados do seguimento deste estudo sobre o efeito da perda e manutenção do peso e a durabilidade da remissão do diabetes. Aproximadamente um terço dos pacientes mantiveram-se em remissão ao final de 2 anos e, dentre aqueles com perda igual ou superior a 15 kg, a taxa foi de 70%. Os resultados do DiRECT demonstram que o diabetes tipo 2 é uma doença potencialmente reversível e que a chance de remissão aumenta proporcionalmente à perda de peso obtida. Da mesma forma, a reversibilidade da doença está intimamente relacionada à manutenção do peso perdido no médio e longo prazo.
O mecanismo associado à melhora glicêmica obtida com a restrição calórica parece estar relacionado à redução da deposição de gordura ectópica no fígado e no pâncreas, levando à redução da resistência à ação da insulina no fígado e à reversão da disfunção das células beta-pancreáticas, mecanismos envolvidos no surgimento do diabetes tipo 2 em indivíduos geneticamente predispostos.
Portanto, indivíduos com diagnóstico recente de diabetes tipo 2, usualmente com duração inferior a 6 a 8 anos, apresentam elevada probabilidade de remissão da doença se submetidos a um programa de perda e manutenção do peso.
*Hemoglobina glicada (A1c) – corresponde à média da glicemia séria dos últimos 3 meses
Referências
1. How do we define cure of diabetes? Diabetes Care. 2009 Nov; 32(11):2133-5.
2. Primary care-led weight management for remission of type 2 diabetes (DiRECT): an open-label, cluster-randomised trial. Lancet 2018; 391: 541–51
3. Durability of a primary care-led weight management intervention for remission of type 2 diabetes: 2-year results of the DiRECT open-label, cluster-randomised trial. Lancet Diabetes Endocrinol. 2019 May;7(5):344-355.
Quão ativo você está?
Uma forma de estimar o nível de atividade física de uma pessoa é através do número de passos que ela dá por dia. Dessa forma, indivíduos com menos do que 5000 passos/dia são considerados sedentários, aqueles com 5000 a 7500 passos/dia como pouco ativos e aqueles com mais do que 10000 passos/dia como fisicamente ativos!
É comum os pacientes procurarem ajuda profissional com expectativas muito elevadas para perda de peso e por vezes irrealistas. Conforme alguns estudos, os pacientes esperam perder entre 20 a 30% do seu peso com o tratamento, um valor bastante diferente do preconizado pelas sociedades médicas para obtenção de benefícios na saúde, que é de 5 a 10% do peso inicial.
Em contraste a esta expectativa, mudanças no estilo de vida, incluindo dieta e exercício, levam a uma perda entre 3 a 8% do peso inicial e um percentual pequeno destes mantém a perda no longo prazo. A adição de medicamentos aumenta a chance de perda para 10 a 15%, o que é considerada uma excelente resposta.
A discrepância entre as expectativas do paciente e os resultados obtidos podem levar à frustração e ao abandono do tratamento, especialmente entre mulheres, em que a pressão midiática é bastante influente.
Por isso, é necessário avaliar as expectativas e os objetivos do paciente em relação ao tratamento e o que é factível de ser atingido para maior chance de manutenção dos resultados no longo prazo.
Da mesma forma, é importante ressaltar ao paciente que perdas modestas mantidas no longo prazo são suficientes para melhorar a saúde e prevenir ou amenizar muitas complicações relacionadas ao excesso de peso e são efetivas na redução dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes e doenças cardiovasculares. De fato, perdas superiores são às vezes necessárias conforme as comorbidades apresentadas individualmente por cada paciente.
Uma perda entre 5 a 10% do peso inicial já é suficiente para redução de fatores de risco associados ao surgimento do diabetes tipo 2 e doença cardiovascular. Perdas maiores, entre 10 a 15%, são necessárias para melhora de doenças como apneia do sono e esteatohepatite (inflamação do fígado pelo excesso de peso).
Por fim, a conscientização de que a manutenção do novo peso depende do equilíbrio entre as mudanças de comportamento adotadas durante a fase de perda de peso e dos limites genéticos de cada um é fundamental, tendo sempre como foco a melhora dos parâmetros de saúde.
Referência
Obesity in adults: Overview of management. UpToDate, May, 2019.
R. Dona Laura, 333/ 906, Moinhos de Vento - Porto Alegre/ RS | (51) 99600-2233 | contato@endocrinologistamilene.med.br