O tratamento do excesso de peso requer sobretudo mudanças no estilo de vida (alimentação saudável associada à atividade física regular) e o uso de medicações que potencializem e/ou facilitem a adesão a estas mudanças.
Por trata-se de uma doença crônica, exigindo um tratamento continuado, a adesão às medidas conservadoras em longo prazo é baixa e as recidivas infelizmente são frequentes.
Conforme estudo americano, 63% dos pacientes com excesso de peso relataram tentativa de perder peso no último ano! Destes, 40% conseguiram perder pelo menos 5% do seu peso inicial e apenas 20% atingiram uma perda superior a 10%!
Ainda conforme estimativas americanas, aproximadamente 1/3 dos americanos recuperam seu peso inicial após um ano de tratamento.
Cerca de metade dos pacientes retornam ao peso inicial dentro de 5 anos após o início do tratamento.
Estes dados justificam em parte a grande procura por terapias alternativas, mercado que tem ganhado mais de 30 bilhões de dólares anualmente.
45% dos americanos afirmaram já ter usado algum tipo de tratamento alternativo para a perda de peso. As mulheres e os adultos jovens entre 20 a 30 anos são os principais consumidores deste mercado.
Terapia alternativa para perda de peso consiste em tratamentos cujo benefício clínico e segurança para uso não estão comprovados por meio de estudos confiáveis, não sendo, por isso, liberados pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para este fim. Entretanto, são de fácil aquisição por não necessitarem de receituário médico para tal.
A seguir, estão descritas as terapias alternativas mais amplamente utilizadas para emagrecimento no Brasil:
1. Óleo de coco
A moda da vez, o óleo de coco conquistou milhares de adeptos por prometer a queima de gordura corporal. Entretanto, não existe evidência científica nem mecanismo fisiológico plausível que justifique o uso de óleo de coco para redução de gordura tampouco para o tratamento da obesidade. Além disso, por ser um óleo rico em gordura saturada, seu uso pode ser deletério para determinados grupos de pacientes, como aqueles com colesterol elevado, doença cardiovascular e diabetes, por exemplo.
2. Cafeína
Cafeína é a bebida mais popularmente consumida no mundo. Aproximadamente 80% da população consumem bebidas cafeinadas diariamente. A cafeína pode ser encontrada em grãos de café e cacau, chás, guaraná, chocolate, bebidas à base de colas e comercialmente sob a forma de suplementos. A cafeína parece ter influência sobre o equilíbrio energético, aumentando o gasto calórico entre 80 a 150 kcal, quando consumida em doses baixas a moderadas (o que corresponde a 1 a 2 xícaras de café). Apesar deste aumento imediato verificado após o seu consumo, os efeitos sobre a perda de peso não foram observados. Além disso, seus efeitos sobre a redução na ingestão alimentar são ainda questionáveis, necessitando de estudos maiores e com maior rigor metodológico. Importante ressaltar que os efeitos da cafeína sobre o gasto calórico diferem entre homens e mulheres e entre pacientes com peso saudável daqueles com obesidade. Até o momento, o uso de suplementos contendo cafeína deve ser desencorajado pela falta de evidência de efeito sobre a perda de peso bem como pelo risco de efeitos adversos potencialmente graves, como arritmias, crise hipertensiva, distúrbios psiquiátricos em indivíduos suscetíveis.
3. Cromo
Nove estudos (totalizando 622 pacientes) que utilizaram picolinato de cromo em pacientes com excesso de peso por um período de até 6 meses mostraram uma redução pífia de 1,1 kg a mais em relação ao placebo, sem diferença de efeito conforme a dose utilizada. Cabe ressaltar que os estudos são de baixa qualidade metodológica e não reportam dados de segurança com o suplemento. Além disso, muitos profissionais da saúde têm prescrito este suplemento com o objetivo de reduzir a vontade por alimentos doces, igualmente sem embasamento científico para tal. Dessa forma, até o momento, devido à escassez de estudos e à baixa qualidade dos mesmos, o uso de picolinato de cromo para tratamento da obesidade não é recomendado.
4. Gonadotrofina coriônica (hCG)
O uso da gonadotrofina coriônica (hCG) combinada a dietas muito restritivas infelizmente permanece como um modismo para a perda de peso desde a década de 50, quando um médico americano (Dr Simeons) relatou perda de peso, ausência de fome e perda de gordura corporal com o uso deste hormônio em jovens portadores de uma síndrome rara. Estudos posteriores mostraram que a adição do hCG a dietas restritivas não produziu benefícios adicionais nem sobre o peso, nem sobre a saciedade e/ou a massa gorda, efeitos atribuídos unicamente à dieta hipocalórica. O hCG é produzido durante a gestação e seu uso é restrito a pacientes com problemas de infertilidade. Seu uso deve ser desencorajado por não haver base fisiológica nem evidência científica que suporte sua prescrição para perda de peso, melhora da composição corporal e aumento da saciedade durante programas de perda de peso.
5. Fitoterápicos (Centella asiática, Erva-de-são joão, Psyllium, Laranja amarga, pholia magra, Faseolamina ou feijão comum)
Suplementos fitoterápicos como a centelha (Centella asiática), erva-de-são joão (Hypericum perforatum), Ephedra sinica ou “ma-huang”, Psyllium (Plantago ovata), laranja amarga (Citrus aurantium), faseolamina ou feijão comum (Phaseolus vulgaris) não são atualmente regulados pelo FDA (Food and Drug Administration), agência americana de regulação de fármacos e alimentos, tendo seus perfis de segurança mal estudados e, portanto, desconhecidos.
Recentemente benzodiazepínicos, fluoxetina e anfetaminas foram detectados em vários suplementos fitoterápicos prescritos no Brasil, o que é motivo de preocupação. Todos os suplementos acima mencionados não mostraram superioridade em relação ao uso de placebo ou mostraram resultados clinicamente irrelevantes. Todos foram testados em estudos com pequeno número de pacientes, por curto período de avaliação, com várias falhas metodológicas e a maioria sem menção sobre os efeitos adversos do tratamento.
6. Quitosana
Constitui componente do exoesqueleto das conchas dos crustáceos, como os caranguejos, camarões e lagostas. Seu uso para perda de peso tem sido associado a uma redução na absorção de gorduras intestinais, efeito semelhante ao orlistate, medicamento amplamente prescrito como adjunto a programas de reeducação alimentar para perda de peso. Os estudos de melhor qualidade metodológica mostram um efeito mínimo da quitosana sobre o peso em até 6 meses de uso, de significado clínico questionável, sem informações sobre segurança no curto e longo prazos.
7.Goma guar
Fibra derivada do feijão indiano, tem como mecanismo de efeito aumento da sensação de saciedade. Os estudos existentes até o momento (cerca de 20 no total) não mostraram superioridade desta fibra em relação ao placebo. O uso deste suplemento foi associado a efeitos indesejáveis, como dor abdominal, gases e diarreia.
Todos os suplementos acima descritos não apresentaram benefício clinicamente relevante quando comparados ao placebo para a perda de peso, além de carecerem de informações sobre segurança a curto e longo prazos.
Importante destacar que alguns suplementos estão sendo associados a casos de hepatite fulminante e necessidade de transplante de fígado!
Portanto, cuidado para não embarcar na promessa de tratamentos milagrosos, isentos de efeitos adversos.
Converse com um especialista experiente no assunto sobre qual o melhor tratamento para você!
Fontes:
1. Diretrizes Brasileiras de Obesidade 2016. www.abeso.org.br/diretrizes
2. Use of nonprescription dietary supplements for weight loss is common among Americans. J Am Diet Assoc. 2007 Mar;107(3):441-7.
3. Why US Adults Use Dietary Supplements. JAMA Intern Med. 2013;173(5):355-361
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