O número de pacientes acometidos pelo diabetes tipo 2 tem aumentado simultaneamente à epidemia crescente de pacientes com excesso de peso, fenômeno observado mundialmente, porém de forma mais preocupante em países em desenvolvimento como o Brasil.
Os dados na literatura são consistentes em demostrar que o tratamento da obesidade pode retardar e/ou evitar a progressão do pré-diabetes para o diabetes, bem como ter benefícios no controle glicêmico de pacientes com diabetes tipo 2.
Em pacientes com excesso de peso, uma perda modesta (5 a 10% do peso inicial), porém sustentada de peso é capaz de produzir melhora significativa dos níveis de glicose com redução do número de medicações para o controle da doença.
O tratamento cirúrgico da obesidade, a cirurgia bariátrica (“cirurgia de redução do estômago”) pode ser uma opção para tratar pacientes com diabetes tipo 2, conforme o índice de massa corporal (IMC) e o controle da doença.
Em paralelo à perda de peso, ocorre uma melhora significativa no controle do diabetes. Mecanismos hormonais, além da perda de peso, contribuem para a melhora dos níveis de insulina e glicose após a cirurgia.
♦ Mas afinal, a cirurgia é capaz de curar o diabetes tipo 2?
Por tratar-se de uma doença crônica, o diabetes não tem cura, mas pode apresentar remissão após uma perda significativa de peso, induzida por dieta ou por cirurgia. Remissão do diabetes é geralmente definida pela manutenção dos níveis de hemoglobina glicada (correspondente à média da glicemia dos últimos 3 meses) abaixo de 6 a 6,5% sem uso de medicações antihiperglicemiantes.
As taxas de remissão do diabetes a curto e médio prazos são bastante animadoras: 70 a 80% em 1 a 2 anos. Infelizmente, entretanto, aproximadamente 35 a 50% dos pacientes que inicialmente alcançaram a remissão do diabetes após a cirurgia, voltam a elevar os níveis de glicemia dentro de até 10 anos após a cirurgia.
Idade mais jovem, menor duração do diabetes (menos do que 8 anos) e tratamento sem necessidade de uso de insulina estão associados a maiores taxas de remissão do diabetes.
Apesar do benefício evidente sobre o controle do diabetes no curto e médio prazos, não podemos esquecer que a cirurgia é um procedimento invasivo, com potencial de complicações imediatas e tardias no pós-operatório, às vezes com necessidade de rehospitalizações e reintervenções.
Apesar de animadores, os resultados no médio e longo prazos dependem de uma série de variáveis, sendo as principais a magnitude da perda de peso e a manutenção do peso perdido, o tipo de procedimento realizado, a experiência da equipe cirúrgica e a duração do diabetes.
Portanto, para pacientes selecionados com obesidade e diabetes tipo 2 e níveis de glicose persistentemente elevados apesar de múltiplas medicações para controle da doença, a cirurgia bariátrica pode ser uma opção para tratamento do diabetes.
Referências:
1. STAMPEDE Investigators. Bariatric surgery versus intensive medical therapy for diabetes-3-year outcomes. N Engl J Med 2014; 370:2002–2013.
2. Metabolic Surgery in the Treatment Algorithm for Type 2 Diabetes: A Joint Statement by International Diabetes Organizations. Diabetes Care. 2016 Jun;39(6):861-77.
3. Review of the key results from the Swedish Obese Subjects (SOS) trial – a prospective controlled intervention study of bariatric surgery. J Intern Med. 2013 Mar;273(3):219-34.
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